sábado, maio 13, 2006
Metade...Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito...
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe seja linda,
ainda que triste,
que a mulher que eu amo seja sempre amada,
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida...
e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como uma prece,
nem repetidas com fervor,
apenas sejam respeitadas
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço...
mas a outra metade é o que eu calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro
seja uma dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso...
e a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso
que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui...
e a outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais
do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo...
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba,
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a plateia...
e a outra metade, a canção.
E que minha loucura seja perdoada...
Porque metade de mim é amor
e a outra metade...também!
(Osvaldo Montenegro / imagem recolhida online)
Rabiscado por lua